02 agosto 2011

Oração do Sacerdote

Esta tarde, Senhor, estou sozinho.

Na igreja, pouco a pouco, os ruídos se calaram,

Foi-se embora toda a gente,

E eu voltei para casa,

Passo a passo,

Sozinho.

Cruzei com gente que voltava de um passeio.

Passei pelo cinema: vomitava uma pequena multidão.

Vaguei ao longo dos terraços de cafés onde, cansados, os passeadores tudo faziam para esticar um pouco mais a alegria de viver de um domingo de festa.

Esbarrei nos guris que jogavam bola na calçada,

Os garotos, Senhor,

Os filhos dos outros, que não serão nunca os meus.

E aqui estou, Senhor,

Sozinho.

O silêncio me dói

A solidão me oprime.

.....................................

Tenho 35 anos, Senhor,

Um corpo feito como os outros corpos,

Braços moços para o trabalho,

Um coração reservado para o amor,

Mas tudo isto te dei.

É verdade que de tudo precisavas,

Tudo te dei, mas é duro, Senhor,

É duro dar o próprio corpo: ele queria dar-se a outros.

É duro amar toda gente e não possuir ninguém.

É duro apertar u’a mão sem poder retê-la.

É duro fazer que brote uma afeição, mas para dá-la a Ti.

É duro nada ser para si mesmo, a fim de ser tudo param eles.

É duro ser como os outros, entre os outros e ser um outro!

É duro dar sem cessar, sem procurar receber.

É duro ir ao encontro dos outros, sem que jamais alguém venha ao nosso encontro.

É duro sofrer os pecados dos outros, sem poder recusar acolhê-los e carregá-los.

É duro receber os segredos, sem poder compartilhá-los.

É duro arrastar os outros sem cessar e nunca poder, um instante sequer, deixar-se arrastar pelos outros.

É duro sustentar os fracos sem poder apoiar-se sobre um forte.

É duro estar sozinho.

Sozinho diante de todos.

Dozinho diante do mundo.

Sozinho diante do sofrimento, do pecado, da morte.

***

Não estás só, meu filho,

Estou contigo,

Eu sou Tu.

Eu precisava, na verdade, de uma humanidade a mais para continuar minha Encarnação e minha Redenção.

Desde toda a eternidade, eu te escolhi.

Eu preciso de ti.

Preciso de tuas mãos para continuar a abençoar,

Preciso de teus lábios para continuar a falar,

Preciso do teu corpo para continuar a sofrer,

Preciso do teu coração para continuar a amar,

Preciso de ti para continuar a salvar,

Fica comigo, meu filho.

***

Senhor, eis-me aqui:

Eis meu corpo,

Eis meu coração,

Eis minha alma.

Faze-me bastante grande para atingir o mundo.

Bastante forte para carregá-lo,

Bastante puro para abraçá-lo, sem querer guardá-lo.

Faze que eu seja um ponto de encontro, sim, mas ponto de passagem.

Caminho que não prende para si próprio, porque nele não há nada de humano a encontrar, nada que não conduza a Ti.

Esta tarde, Senhor, enquanto tudo em volta silencia, dentro do meu coração sinto morder duramente a solidão.

Enquanto meu coração uiva longamente sua fome de prazer,

Enquanto os homens devoram-me a alma e eu me sinto impotente para saciá-los,

Enquanto sobre meus ombros pesa o mundo inteiro, com todo seu peso de miséria e de pecado,

Eu te repito o meu SIM,

Não às gargalhadas, mas lentamente, lucidamente, humildemente.

Sozinho, Senhor, sob teu olhar,

Na paz da tarde ...

Michel Quoist

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