14 abril 2011

Mensagem de Páscoa


Quem não se sente melhor nestes dias do outono em Pelotas? O friozinho das manhãs de abril afugentando de vez os últimos e quase insuportáveis calorões de março? Quem não repara no espetáculo colorido das paineiras em flor, aqui e ali, convidando a cidade à alegria e à beleza?
Mas, por outro lado, quem não padeceu com a tragédia da Escola Municipal Tasso da Silveira, no Rio? A dor de crianças e adolescentes sem defesa, de pais, professores, amigos entregues à insânia da pura violência... Por quê?
Quanta dor doendo também em nós!
O Mistério Pascal de Cristo é celebrado, a cada ano, no hemisfério sul, na passagem dos ardores do verão para a jovialidade dos dias azuis do outono. A natureza nos dá o ritmo e a aragem – por que não dizer a moldura? - do que significa passar, atravessar, sair de uma situação para outra. Passagem. Pessach.
Exatamente, em hebraico, pessach, páscoa. Os hebreus passaram, aquela noite, da terra da escravidão para a o caminho da Terra Prometida, lá onde corria “leite e mel”. Onde as amendoeiras floresciam em abril. 
Jesus de Nazaré, durante a festa da páscoa, aquele ano, em Jerusalém, passou por dentro da cruz, por dentro da morte injusta e violenta que lhe foi imposta, para o caminho da vida nova: ressuscitou!
Abril nos chama à alegria e à festa da Páscoa do Senhor, Ressuscitado dos mortos. O outono pelotense é a necessária moldura natural para nossa alegria interior. Porque Ele ressuscitou como Primogênito, testemunha o Apóstolo, (Cl 1, 13-20), num hino em que ecoa a fé da Igreja dos inícios, nossa Mãe.
A dor, a tragédia, a morte, sejam quais forem as profundidades que alcancem cavar, não nos aprisionam mais. Os abismos do mistério da iniqüidade foram definitivamente atravessados pela espada vencedo vencedora da Cruz do Amado. ”Ele nos arrancou do poder das trevas e nos transportou para o Reino do seu Filho Amado, no qual temos a redenção, a remissão dos pecados” (Cl 1,13). Sua dor curou a nossa dor. Sua morte deu-nos a vida. Entregue ao suplício do Calvário, plantou nas profundezas escuras do império do mal o viço irresistível da Árvore da Vida.
A ti que choraste, no dia 8 de abril, ante o horror que feriu a alma brasileira mais do que todos os horrores do dia-a-dia aceleradamente insano e violento; a ti que choras do fundo do abismo das dores nossas de cada dia; a ti, irmã, irmão de caminhada e de agonia, eu desejo Feliz Páscoa.
Não por desejar, não por conta do calendário. Mas porque a Esperança que habita em nossos corações tem um fundamento que não engana: Jesus Ressuscitado, arrancado do poder da morte pelo AMOR mais forte do que a morte.
Filhas e filhos no Filho Bem-Amado, nós nos tornamos herdeiros e co-herdeiros pela Graça da Fé que recebemos no Batismo (Rm 8,14-17; Gl 4,1-7). Ele, tomando-nos pela mão, grita para dentro de nossos abismos: Vem para fora! Sai! Não entreguei minha vida na cruz para que permanecesses aí! Levanta-te, vem! Sua voz ressoa em cada uma das belas manhãs de nosso outono ensolarado. O chamado é claro como sua luz: Vem para as alegrias pascais! Primeiro, morrendo. Isso mesmo. Passagem da morte para a vida. Aceita morrer para tua agressividade e violência, para tua demora em curar ressentimentos e perdoar, para teu descuido com o Planeta, para teu fechamento para com o outro. Coragem! É morte que gera vida. Conversão. Passagem: Páscoa.

Feliz Páscoa, meu irmão, minha irmã!

Pe. Antônio Reges Brasil
Pároco


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